Uma pesquisa recente do Sistema de Indicadores de Percepção Social
(SIPS) do IPEA, “Tolerância Social à Violência Contra as Mulheres” (http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/SIPS/140327_sips_violencia_mulheres.pdf),
sinaliza questões importantes acerca da violência a que estão expostas as
meninas e mulheres no Brasil. A pesquisa confirma o que no cotidiano os meios
de comunicação já vinham relatando, por exemplo, a respeito dos episódios
recentes de assédio contra mulheres no transporte coletivo de São Paulo (http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/03/onda-de-assedio-em-trens-e-metro-envergonha-sociedade-diz-dilma.html).
De acordo com a pesquisa, 91% dos entrevistados de maio a junho de 2013
concordam total ou parcialmente com a afirmação “homem que bate na esposa tem
que ir para a cadeia”, sendo que 78% dos 3.810 entrevistados “concordaram
totalmente com a prisão para maridos que batem em suas esposas” e 89% discordaram
da afirmação “um homem pode xingar e gritar com sua própria mulher”. Como a
própria pesquisa sinaliza, seria prematuro concluir, com base nesses
resultados, a “baixa tolerância à violência contra a mulher na sociedade
brasileira, pois a mesma pesquisa oferece evidências no sentido contrário”. Aproximadamente
“três quintos dos entrevistados, 58%, concordaram, total ou parcialmente, que,
se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”. Outro dado
alarmante: 63% concordam, total ou parcialmente, que “casos de violência dentro
de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família”. A maioria
dos entrevistados, 89%, tenderam a concordar que “a roupa suja deve ser lavada
em casa” e 82% que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
A pesquisa aponta uma ambiguidade dos discursos. De um lado, as pessoas acreditam
que um homem que pratica violência contra mulheres deve ser preso, no entanto,
no que toca à violência sexual, “a maioria das pessoas continua a considerar as
próprias mulheres responsáveis, seja por usarem roupas provocantes, seja por
não se comportarem adequadamente”. A questão do direito das mulheres sobre seus
corpos se mantém como algo a ser conquistado. Segmentos da sociedade toleram e
muitas vezes incentivam a violência sexual contra as mulheres, colocando a
culpa na vítima pelo ocorrido, seja por causa do ambiente frequentado, da roupa
que usava ou do seu comportamento. Esse aspecto da pesquisa remete a uma grande
preocupação quanto a tolerância de parte sociedade em relação a atos hediondos
de violência contra a mulher.
Os dados sinalizam que a violência contra a mulher segue sendo uma
questão de grande complexidade, que envolve desde uma mentalidade patriarcal
acerca da figura das mulheres até as subnotificações dos casos de violência
sexual no Brasil. A pesquisa nos apresenta o desafio de educar melhor a
população e fazê-la refletir sobre os direitos de cada um sobre seu corpo, sua
sexualidade, seus direitos e liberdades enquanto cidadão ou cidadã.
Outra pesquisa recente sinaliza que as meninas e mulheres são as maiores
vítimas do estresse (http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2014/03/levantamento-mostra-que-estresse-cronico-atinge-mais-mulheres.html).
Podemos inferir que além do estresse da jornada dupla contemplando os afazeres
domésticos e a vida profissional, a mulher tem de lida com o temor do assédio. Em
alguma medida, essa questão soma-se como mais um fator importante de estresse
no cotidiano das meninas e mulheres.
São pesquisas com temas diferentes, mas que induzem a conclusões que nos
fazem refletir sobre o longo caminho a percorrer para vivermos numa sociedade
mais justa, com direitos e garantias mais equilibradas entre homens e mulheres.
Por: Maria Jose Dias de Freitas (Prof.ª Adjunta UNIP e membro do Gecopros)
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